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AQUI É A RUA

  • Foto do escritor: Clarissa Ganzer
    Clarissa Ganzer
  • 19 de jun. de 2013
  • 3 min de leitura

Atualizado: 25 de fev. de 2021

19.6.2013 Tudo o que está acontecendo no Brasil, no mundo, na minha, na sua rua, lembra um trecho do livro da historiadora Marilena Chauí, (Brasil: Mito fundador e sociedade autoritária) em que ela disserta sobre a relação das músicas populares alusivas à Copa do Mundo com o cenário político do Brasil.


Por exemplo, em 1958, ano em que o Brasil consagrou-se campeão do mundo na Copa sediada na Suécia, o sambinha que embalou os brasileiros dizia: “A taça do mundo é nossa/ Com brasileiro não há quem possa... bom no samba, bom no couro”. O otimismo visível da letra retrata o momento que o país, sob o governo de Juscelino Kubitschek, experimentava. Era os “50 anos em 5” e a iminência do desenvolvimento nacional. (Ah, lembrando que Brasília foi inaugurada dois anos depois, em 1960).


Já em 1970, durante o período da ditadura militar, a música mudou do samba alegre para uma marcha que falava: “Noventa milhões em ação/ Pra frente Brasil/ Do meu coração/ Todos juntos vamos/ Pra frente Brasil/ Salve a Seleção”. Como soldadinhos, marchávamos em direção à vitória, a “salvação” da seleção (ou será do país?).


A historiadora sinaliza que “a mudança do ritmo - do samba para a marcha -, a mudança do sujeito - do brasileiro bom no couro aos 90 milhões em ação - e a mudança do significado da vitória - de ‘a copa do mundo é nossa’ ao ‘pra frente, Brasil’ não foram alterações pequenas” (CHAUÍ, 2000, p.20) e afinam-se com o momento que o país vivia.


Hoje, o VEM PRA RUA é palavra de ordem em manifestações pelo Brasil e é recorrente no facebook, twitter e nos cartazes dos manifestantes. A música que fala “vem pra rua, que a rua é a maior arquibancada do Brasil” faz parte de um comercial de uma marca de automóveis que é amplamente divulgado na mídia brasileira.


Parece que na Copa de 2014, que deve acontecer no Brasil, a trilha sonora que incentiva o apoio dos brasileiros à Copa e os chama para a rua, nos embala hoje, os manifestantes. Os manifestantes que posicionam-se contra a corrupção no país, a favor do incentivo à educação, saúde e que, entre outras demandas, questionam os bilhões de reais investidos na Copa do Mundo em detrimento ao investimento para sanar as muitas deficiências do país. Irônico, não?


E essa rua, do século XXI, não se limita a via pública. Essa rua é espaço onde as pessoas se encontram, onde os brasileiros tem a oportunidade de dizer o que pensam sobre o país, de falar e escrever: “Ei, eu estou aqui”, “O gigante acordou”. (O jingle da Fiat, cantado pelo grupo O Rappa ainda diz “Que o Brasil vai tá gigante/ Grande como nunca se viu”).


E a canção não poderia ser mais conveniente, já que esta RUA é o facebook, é o twitter, é o instagram é o local virtual ou real em que a maior arquibancada do país se encontra e se manifesta. A rua é aqui e a história, a revolução, está acontecendo agora. Segundo Chauí, nas comemorações de 1958, as pessoas saíram às ruas vestidas de verde-amarelo, as cores do Brasil, o que, conforme a historiadora, tornava a festa popular. Já em 1970, a vitória estava relacionada com a ação do Estado e a bandeira nacional apareceu nas comemorações. Em 2013, nos protestos, acrescentamos, ao verde-amarelo e as bandeiras, os posts e comentários na internet. É uma mudança total na maneira de compartilhar o sentimento de insatisfação ou orgulho pelo momento político do país. A facilidade da internet tornou a RUA virtual e móvel.


O imperativo do verbo vir, VEM, incita, chama, instiga a participação de todos, de todos os brasileiros, residentes no país e no mundo. E parece que funciona, não é mesmo? Manifestações similares as que ocorrem nas cidades brasileiras são vistas em cidades como Sidney, na Austrália, em Berlim, na Alemanha, em Londres, na Inglaterra.


Mudamos o status de “se essa rua fosse minha”, do comodismo deprimido do “e se” para o mandatório e proativo “vem”.

Sem dúvidas, estamos vivendo a história. E aqui é a rua e essa rua é MINHA, é SUA, é NOSSA!! #VEMPRARUA você também.



** Originalmente publicado no Jornal O Nacional (Passo Fundo/RS) em 21 de junho de 2013.


** Publicado também no periódico Página 3 (Balneário Camboriú/SC) em 29 de junho de 2013.

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