top of page

O segredo dos seus Secrets

  • Foto do escritor: Clarissa Ganzer
    Clarissa Ganzer
  • 13 de ago. de 2014
  • 3 min de leitura

Atualizado: 25 de fev. de 2021

13.8.2014 Futricando na internet, deparei-me com uma página sobre os melhores segredos do Secret. Secret é um aplicativo que permite, de forma anônima, que os usuários troquem segredos (textos e fotos) entre si. O usuário precisa conectar-se a sua conta do Facebook e é possível acessar a lista de secrets (segredos) dos amigos e também os mais populares do aplicativo.


Tem muita declaração engraçada, que faz com que eu me sinta mais aliviada, vendo o quanto sou comum e normal, como: “Odeio quando ofereço comida por educação e a pessoa aceita”. Sei bem como é. Era meu último Trident. “Vou no bk (Burger King) e só como o mesmo lanche porque não sei falar o nome dos outros e tenho vergonha de falar e errar”. Eu disse que não sabia qual cover a banda iria tocar na festa porque não conseguia (e ainda não consigo) pronunciar Arctic Monkeys direitinho. “Às vezes, canto no meu quarto como se fosse um artista em um show no Madison Square lotado. Eu aceno e tudo”. Te entendo, e meus amigos que me acompanham ao karaokê também... Enfim, e outras coisitas mais que, né? Minha mãe vai ler esse texto, então é desnecessário citar.


Porém, alguns segredinhos são realmente perturbadores. Afirmo que não sou moralista nem nada. Sei bem, acredite, como a hipocrisia social pode ser danosa. Mas, pô, estabelecer relações com o mínimo de respeito e honestidade não é ser reprimido ou idiota. É ser gente.


E o que mais me espantou no que li publicado no aplicativo não tem relação nenhuma em admitir que já imaginou todos seus amigos sem roupa, que já comeu escondido no intervalo só para não ter que dividir com ninguém. E outras coisas que, né? Lembra que minha mãe vai ler o texto? Pois é, então, sigamos. É aquela máxima: ninguém é perfeito. É isso. E sim, todos erramos. Eu e você. Ninguém é mega bonzinho. E menos mega bonzinho todo o tempo o tempo todo. Entretanto aqui, me refiro ao “foda-se” na potência máxima interruptamente para os sentimentos e relacionamentos de e com outros indivíduos. Ei, olha, só é legal quando Nelson Rodrigues escreve, na vida real, não. Sabe as vídeocassetadas em que a pessoa se machuca muito e parece sentir dor? É mais ou menos isso. Não consigo achar graça.


É muita zoeira. Muita. A intriga e a crueldade fazendo Hadouken na tela de cada smartphone. Assumir o que publica, bancar o que faz e pedir “com licença” no ônibus ninguém quer. Sei. A busca veloz pela satisfação, do ter, onde tudo é facilmente deletado e substituído está sendo transferida para os relacionamentos. São os amores líquidos, né? Tão perecíveis quanto profundos. Eu quero, eu consumo, logo descarto. Parece também que ninguém mais pode se frustrar, perder, ser contrariado. Tudo existe e acontece para concretizar a sua ambição – e só - que deve ser correspondida instantaneamente. E é claro, render uma boa história, afinal: por que viver aquilo se ninguém sabe?


Eu fiz, logo compartilho? É uma bebida ótima que te deixa feliz 15 minutos e te dá uma ressaca para o resto da vida. Mas e daí? O importante é o agora. Não é só Lady Gaga que quer aplausos. E a gente bem sabe, há um imperativo tácito que diz que você PRECISA estar feliz. Sempre. Então, ligam-se os “foda-se” e que seja feita a sua vontade. E se alguém discordar ou te decepcionar... Ih... nossa! Vira um problemão, com direito a terapia vitalícia. Geração do “be happy”, “carpe diem” e que não sabe lidar com a rejeição (inerente à vida). E nesse contexto, fofocar anonimamente é sobrevivência.


Talvez sempre tenha sido assim, e a internet só coletou essas atitudes e mostrou para todos nós, com uma lupa impiedosa. E é demais pra minha cabeça. Perceber assim, o quanto e como o ser humano pode ser falso e egoísta é bem triste. E se “the zoeira neves ends”, para mim, a zoeira é boa quando “the zoeira happy ends”.


** Originalmente editado e publicado no periódico Página 3 (Balneário Camboriú/SC) em 23 de agosto de 2014.

Comentários


​Copyright © 2025 Clarissa Ganzer | Jornalista (0014438/RS) e arquiteta e urbanista (A147507-0/RS); DRT (0010994/SC). Todos os direitos reservados.

 

  • Instagram
  • YouTube ícone social
  • Facebook ícone social
  • LinkedIn Social Icon
  • Pinterest
  • Flickr Social Icon
bottom of page